Esses dias chuvosos de inverno servem apenas pra uma coisa:
desenterrar o passado. E foi isso que eu fiz. Às vezes é bom sentar com aquelas
caixas que guardam todo o nosso passado, e ir revivendo cada momento dele com
alguns sorrisos e com algumas tristezas na hora que a saudade aperta. No meio
delas, encontrei uma daquelas caixas que a gente tenta evitar, exatamente
aquela que a gente coloca tudo o que escrevemos e que nunca tivemos coragem de
dizer para o alguém que foi o motivo das escritas. E no meio de tantos papéis
com palavras nunca ditas, encontrei um papel velho, amassado e desamassado
depois. E nele havia todas as palavras que nunca te disse. Pra começar, lá
estava eu falando aos quatro cantos do mundo o quanto sua ausência me feria – e
agora que essa chuva aumenta, me fez lembrar que a gente amava chuva, e disso
me fez lembrar que a culpa não foi só minha pelo fim. Assim como eu podia, você
também poderia ter ligado naquela noite solitária que a minha falta te cortou o
peito, e não te deixou pregar os olhos te fazendo pensar se eu estaria bem, e
se estaria pensando em você – a carta... É claro, ia me esquecendo. Nela também
te falava dos meus sentimentos que nunca consegui te dizer, pois ficar na sua presença,
me fazia silenciar. E confesso, eu amava nossos silêncios. Claro que amava ouvir
sua voz, mas quando estávamos na presença um do outro, nossos silêncios e
olhares diziam tudo o que queríamos um do outro. Sintonia? Não sei. Só sei que é algo forte o suficiente
que ficou guardado no peito. Na carta também dizia as três palavras que você amava
me ouvir falar e que eu ODIAVA admitir. Exato, eram bem essas, EU TE AMO! Era dizer
essas palavras, e nada mais que havia no mundo fazia sentido para nós. E sabíamos
que aquilo nos bastava. Eu dizia tantas vezes que não precisava de ninguém, e
quando eu te dizia as tais palavras, sentia uma súbita certeza que de você eu
precisava. Não pra continuar a viver. Mas pra descongelar o que eu tenho dentro
do peito – mais chuva... Tanta chuva assim me faz querer voltar no tempo. Acho melhor
parar por aqui com a carta. Um dia, quem sabe, se nossa “sintonia” continuar a
mesma, eu te mostro essa carta numa tarde chuvosa e fria como essa, enquanto lembramos
o nosso passado repassado por inúmeras vezes em nossas mentes – “Fica bem, por você,
por mim. Se cuida, e quando der, vem cuidar de mim também.” Dizia as ultimas
palavras da carta.
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